domingo, 10 de outubro de 2010

invento as minhas dores
vagarosas como sombras na infinita teia das verdades
desprevenidos pensamentos sobreviventes
assaltam-me a memória emaranhada
desperto dei-me conta do intruso tempo em rasgos
descortinados de lucidez
meros golpes da lembrança
o mundo cheira-me a casa com flor de laranjeira
onde a noite realmente tem asas recosturadas a saliva
guardo então as minhas incógnitas ausências
e na gaveta das quatro estações da lua
renovo as ondas desfeitas e adormeço nas entranhas.

Zé Afonso

8 comentários:

Anónimo disse...

Enquanto tu adormeces nas entranhas, nós, simples mortais encantamo-nos com as tuas doces palavras soltas! Belíssimo!

Att,
Alberta Cruz

Anónimo disse...

Palavras perfumadas de poesia sempre nos fazem bem!Boa escolha!

Abraço
Joel Paes

Anónimo disse...

Vi aqui que "Zé Afonso" não é um escritor e nem tem ambições para tal, mas que tu escreves maravilhosamente bem , isso não há como negá-lo!! Esta coisa a quem chamamos mundo virtual ainda me consegue surpreender, quando ao navegar por cá avisto blogues assim, onde na "vastidão do tempo" pessoas mostram tesouros.

Encantada,
Carina Araújo

alma nua disse...

Fiz-me ausente, mas já estou de volta e em "rasgos descortinados de lucidez" reforço que adoro ler-te!
Beijo

Anónimo disse...

Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.
Fernando Pessoa

Anónimo disse...

Os poetas inventam as dores e adormecem nas entranhas...

gostei poeta :-)

Beijo

Anónimo disse...

A primeira estrela apontou o viajante
Qual é o caminho que leva à beira do mar
Mas três condições ele teria que cumprir para chegar
Ensinar a todos que pedissem seu caminho sem cobrar
Cada fruta boa que ele comesse ia plantar
E a terceira condição era um segredo que ele nunca quis contar
Mas o viajante quando chegou até o mar quis pegar a estrela
A quem resolvera amar
E a primeira estrela que amava o viajante jogou sua imagem
Na água sem pensar
E o que conta a lenda é que justo nesse instante nasceu a primeira
Estrela do mar

PS: adorei cada letra
PS: adorei a música

Anónimo disse...

Quando uma rosa morre
Outra cresce em seu lugar
Para onde o rio corre
Não é sempre o mesmo mar.

O sentido é um desvio
E a verdade um acidente
Não é sempre o mesmo rio
Não é sempre a dor que sente.

Quando uma rosa morre
Outra lua se anuncia
Não é sempre a mesma luz
Nem o mesmo fim do dia.

O sentido é um desvio
E a verdade um acidente
Não é sempre o mesmo rio
Não é sempre a dor que sente.

Quando uma rosa morre...