segunda-feira, 18 de abril de 2011



Os meus lábios habitam-te a pele

morada quente dos sentidos na poeira das horas sem cronologia
saliva de luz nas capas da epiderme entre as loucuras sensatas da primavera em flor
desfloradas margaridas embaladas pelo vento esquecido de outras estações
onde o sol matreiro repentinamente fez a sua casa e descansou
descansou profundamente como se nada mais houvesse no desconcerto da alma
além do azul do mar e do cheiro adocicado das montanhas coloridas
amparos discretos de corpos deitados na erva de orvalho perdidos entre olmos de risos e dedos nas pálpebras de vagos sonhos colados na pele

inquietantes instantes de afagos no coração

Zé Afonso

7 comentários:

Rosario Ferreira Alves disse...

"como se nada mais houvesse no desconcerto da alma", assim apetece ler-te...e reler...num repouso sem descanso...

que bom:)

beijinho

Vieira MCM disse...

Esta melodia doce, deixa o coração inquieto de alegria, ao saber que ainda existe quem sinta assim e o partilhe com outros neste belissimo tributo ao amor.

Abraço

Vieira MCM

Anónimo disse...

"Os meus lábios habitam-te a pele", uma certeza absoluta que torna qualquer amor pulsante "na poeira das horas sem cronologia". É um gosto ler-te. Beijinhos ;)

alma nua disse...

Perfeito casamento entre imagem e pensamento. Como sempre, algo grandioso e tranquilo. Algo que nos transporta para um mundo acolhedor e cheio de tons primaveris.

PS: adorei o alcance da tua objectiva.
Beijos

Anónimo disse...

Lindo e muito sentido. A pura essência da poesia.

Abraço
Miguel Ferreira

Virgínia do Carmo disse...

Felizes dos que têm pele onde matar a sede aos lábios.

Lindo o teu texto.

Um abraço, Zé

ADRIANA GIL RODRIGUES disse...

Fez-me sentir e sonhar...