Sou eu o senhor das noites. Senhor dos desenhos mentais. Senhor do barulho das cigarras em noites quentes de verão. Atravesso a vida a contar os fios que equilibram a minha existência, os sorrisos que perduram momentos, visões claras dos meus passos incertos. Certo, apanho pássaros com olhares filtrando abismos. Apanho no ar murmúrios cheio de tempo, moinhos velhos que entornam vidas em dedos inquietos. Somos aquilo que somos. E nada mais. Versões inverosímeis arranhadas imperfeitas de realidade no movimento das estações. Vivemos dos rastos que deixamos no caminho, afagos nos lábios, anjos de paz nas almas em fúria. Vestígios concretos, palpáveis de vida. Toco os olhos na sombra, todo o espaço que o meu coração abarca. Agora. Eis a corda mágica na razão da vida de letras ao acaso. Isso mesmo, puras, singelas e displicentes letras ao vento como copos entornados. Nada é consistente. Nada é para sempre. Tudo é tortuoso nas narrativas do tempo. A maior liberdade do mundo é ter alma. Alma e coração, para amar ou para morrer de amor. Hoje, cego de gestos, destapei a cortina da vida no nó dos dedos. Jogos obscenos, embriagados de palavras. A vida serve-se assim. Crua e nua, em minutos bem vividos, de janela aberta e sorrisos à espreita.
Zé Afonso
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6 comentários:
Uma belíssima prosa inundada de poesia! Adorei.
Beijo.
Amália
"vivemos dos rastos que deixamos no caminho...",mais uma vez algo elaboradamente poético e belo!
Beijo
Sabes?? Adoro ler-te!
Vim aqui parar sem querer e já a querer deixei-me ficar! Tdo aqui é imensamente belo!
Bjo
Sofia carvalho
Sou senhora de mim mesma, ou senhora de nada...
um abraço
tulipa
Quando falamos com a alma, usamos sempre as palavras certas.
Saudações,
Matilde
Nada a trancrever. Fantástico texto. E blogue. Bjs
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