terça-feira, 27 de julho de 2010

Preguiçoso por destino vagueio por entre as dunas da alma a ocultar páginas. Mundos de ontem tão visíveis nos dias do agora embalado presente. Movido a respiração entrecortada desenho palavras desconectadas, mas sérias. Palavras profundas que nos roubam os sentidos como asas de borboletas em pleno voo para a liberdade. Em corpos despidos vislumbro meros transeuntes nos longos caminhos da vida como laços de duas pontas: Somos realmente tão vulneráveis nesta aldeia do conhecimento! Aflito, penetrei na penumbra requintada dos lamentos, corredores no meu encalço. Nem tive coragem de olhar para trás. Todavia quando fecho os olhos, o silêncio atropela-me os dias nos dedos encarquilhados curiosos e sem qualquer propósito. Guardo os manuscritos na gaveta e invento sonhos como quem calibra os pulmões no recanto do quarto.


Zé Afonso

4 comentários:

Anónimo disse...

Espectacular...façamos silêncio!
Abraços,
Miguel Guiné

Pedro Senna disse...

Meu Caro amigo poeta:

Mesmo "preguiçoso por destino" vagueias de forma sensivel pelas entranhas desconexas do teu labirinto e faze-lo de forma plena e convicto de certezas. Realmente, limito-me humildemente a dizer que estamos perante um monge das palavras: a perfeição em forma de letras.

alma nua disse...

"Se me cerco das janelas é apenas para ver o longe, as ténues linhas do azul inatingível...Assim, dou feriado à minha existência." (Mia Couto)

e "na penumbra requintada dos lamentos" brota a beleza das palavras.
Beijo

Anónimo disse...

Não guardes na gaveta...È um prazer ler-te!

Sim, obrigada

:)