quarta-feira, 1 de junho de 2011

Se me tocas as pálpebras eu escondo me em bolsos alheios de conchas do mar ou na cama que fizemos entre os sonhos nas monções das macias palavras que se apegam à alma como lesmas delirantes à procura de açúcar.

Se me tocas as pálpebras, devidamente castigadas de cansaço, eu escondo me a decifrar segredos escondidos nos castos nós dos dedos enquanto adivinho confidências na lua com acenos de trapezista tatuados nas inquietantes gargalhadas ocres das flores ou nas profundezas do gesto que teimo em perseguir no torpor das noites oleadas de perdição.

Se me tocas as pálpebras eu desfaço-me em chuva de alegrias e em acelerados tic tacs do meu leviano relógio de pulso que descaradamente mostra me o descortinar insólito de mais um dia a descer dos céus como nuvens de açafrão.

Se me tocas as pálpebras? Juro, não resisto nisto que insisto!

Zé Afonso

9 comentários:

Virgínia do Carmo disse...

Quanta sensibilidade nas tuas pálpebras!

Beijinho:)

Vieira MCM disse...

Encantador e envolvente. Para mim foi como alimento para a alma.
A maneira como escreves vicia quem te lê. Parabéns.

Abraço

Vieira MCM

Eternamente disse...

Passear por este farol do mar é uma luz que nos ensina o caminho.
"Se me tocas nas pálpebras? Juro, não resisto nisto que insisto!"; e eu juro, que voltarei :)

alma nua disse...

Zé Afonso Zé Afonso, realmente mais uma vez rendida à tua escrita com "acenos de trapezista tatuados".
Ao ser questionada sobre os meus poetas contemporâneos preferidos só tenho uma resposta: Zé Afonso e Vasco Gato, sem mais nem porquê...e sem mais reticências! És grande num mundo inteiro de palavras!
Ainda hei-de ler-te vezes sem fim, e com certeza, sempre rendida ao sabor das tuas palavras que insisto em perseguir.

Beijo

Rosario Ferreira Alves disse...

"mais um dia a descer dos céus como nuvens de açafrão."
Lindas imagens que escolhes... sempre. Quem sabe o sabor das palavras sabe-lhes o caminho para o papel. Parabéns, de novo. Beijinho.

Rosarinho

Anónimo disse...

Isto de escrever tem o que se lhe diga e tu meu caro amigo, dizes como nenhum outro aquilo que carregas na alma. Que Deus te abençoe essa veia poética e te inspire cada vez mais para devaneios tão desconcertantes.

Abraços,

Manuel Figueiredo

bulgari disse...

Gosto de vir aqui!

Anónimo disse...

espirituoso e profundo.

saudações
Gabriela Fernandes

Anónimo disse...

Escreves literalmente com a alma, parabéns pelo teu espaço tão erudito.

Maria João