quarta-feira, 29 de junho de 2011

flores de verão no soslaio das manhãs desertas de junho
oceano hipnose de liberdade na direcção azul do céu

adivinho a dentada nas palavras como dedos a partilhar a morna pele

inconscientemente corro os olhos pelos socalcos do caminho
rumo ao sol que me trucida com sensações preenchidas de toques e tonteantes palpitares no canino cio cheiro de terra quente enfeitada de odores
desalinhados deleites deste ponto cardeal desmaiado de tempo como navalhas no sentido torto das palavras


agora que o verão quase me destapa os sentidos da vida relembro curiosamente os teus pés descalços na minha secreta caixinha de música
sei de antemão que me pertences com feitiços repletos de cerejas na gaiola dos dias desamparados de rosa dos ventos
Norte Sul Este Oeste para contemplar o sol de frente pra vida e com punhados de esperança nas algibeiras da alma

armadilhas de cegos segredos nos braços de mais um dia
certezas concretas de olhares fugazes na varanda colorida de sentidos
baloiço de penas rumo ao céu onde gaivotas felizes nos dão acenos alaranjados e beijos de sol
alegrias bem vindas e histórias para dormir ao sabor do mar
em noites claras de fogos de artificio

Zé Afonso

7 comentários:

Virgínia do Carmo disse...

Agora que o verão quase me destapa os sentidos venho dizer-te que a tua contemplação do sol é das mais belas que a minha pele já leu.

Beijinho, Zé

Rosario Ferreira Alves disse...

Uma dança sensual de palavras que nos elevam na ordem e na desordem dos sentires. Mãos de poeta-maestro num corpo de alma sensível. Dramaticamente doce:) Muito bem, amigo. Beijinho!

Eternamente disse...

Palavras que entorpecem e hipnotizam a alma. Um sentimento de "pertença" desmesurada, assim é o amor. Divino. Beijo :)

maré disse...

gostei de passar depois de um longo exílio. paradoxos?! há algo de tão inquietamente intimo que me aflora à lembrança ao ler-te, assim...

Anónimo disse...

Aqui temos mais que "histórias para dormir ao sabor do mar" temos as sempre fascinantes palavras de um homem com a alma no coração.

Voltarei sempre.

Conceição Matoso

Sempre disse...

O poeta é como o príncipe das nuvens.
As suas asas de gigante não o deixam caminhar.

Charles Baudelaire

Adormeço embalada pelas "histórias para dormir ao sabor do mar". Beijinhos ;)

Vieira MCM disse...

Num baloiço de penas rumo ao céu é onde me sinto ao ler estas palavras, que me embalam não para dormir, mas para sonhar com gaivotas felizes e sabor a mar.
São o passaporte para outros voos de esperança nas algibeiras da alma.
Magnifico.

Abraço

Vieira MCM